Para muitos, atualmente em nosso mundo moderno, parece a arte algo inútil. Que verdade pode ela revelar? Nenhuma… “Arte é magia, libertada da mentira de ser verdade”, escrevia Theodor Adorno em Minima moralia. Por que libertada? A “verdade” (ordem) desse mundo em que estamos nos obriga a viver uma farsa de todos os nossos sentimentos e pensamentos… (E um escrito em um muro pichado lido por mim é mais ácido: “a verdade estabelecida é a mais pura mentira”). E é tal magia a revelação da mentira que dizem ser “verdade” (ordem).
A poesia, para muitos críticos, é a mais mágica das artes, pois “semelha o raio de sol que esplende sobre esta escuridão e a reveste da sua luz e torna claras as feições ocultas das coisas” (B. Croce). Assim, a pureza da poesia está em revelar, em um mundo impuro e triste, os sentidos encantantes da vida. Contudo parece a poesia fazer um esforço inútil: “Em vão me tento explicar, os muros são surdos” (Carlos Drummond, do poema “A flor e a náusea”). Que dizer a muitos sem memória e sem sonho?
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(Re)povoar, portanto, de harmonia e encanto o mundo despovoado de toda a beleza… O poeta não seria um louco por tentar (re)povoá-lo? Louco, sim, por suportar a dor de ver um mundo desencantado e, mesmo assim, querer transformá-la em um místico viver capaz de rebentar em estrelas de compreensão e ternura: “[a] poesia resiste à falsa ordem, que é, a rigor, barbárie e caos […]. Resiste aferrando-se à memória viva do passado; e resiste imaginando uma nova ordem que se recorta no horizonte da utopia” (Alfredo Bosi, O ser e o tempo da poesia).
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