Sem Comentários (Segunda Edição)



UMA PIRUETA, DUAS PIRUETAS. BRAVO, BRAVO!
Lucas Limberti

O circo chegou.
Explode alegria, corre a criança, a cidade em polvorosa ouve o desfile:
– Atenção comunidade chegou o maior espetáculo da terra!!
Saltos, mágicas e palhaçadas.
O povo sorri com o coração cheio de vida vendo o desfile. Estouram foguetes, sobem balões, passam elefantes e mulheres barbadas. Na frente de todos está ele, o grande palhaço, o malandro inocente, o triste maquiado de alegria.
Alvoroçados, todos correram para as bilheterias, lotaram o espetáculo, compraram pipocas doces e salgadas e, até o fim do espetáculo, esqueceram-se da dor de ser o que eram.
Passou a temporada. A magia do circo é um sopro. Quem viu viu, quem não viu que junte seus pacotes e corra atrás da trupe.
O choro da criança alarmou, mas aos poucos cessou.
Neste farfalhar de emoções, esqueceram de avisar o palhaço da partida. Com a lona ainda montada ele foi, como deveria ser, pra sina de sua cena. Sorriu melancólico.
A maquiagem do palhaço só vale no palco; sentado no camarim ele se despede da tristeza. Afasta-se do pó e empunha seu violino para cena de seu dom e de seu tom. Mal sabe ele que hoje a plateia não vem. O circo fechou, a trupe se arrancou. E mesmo assim o palhaço apresentou-se como se aquela fosse a última vez que pisasse um picadeiro.
Após o espetáculo, sem palmas, sem risos, na companhia dos grilos o palhaço sacou um revólver da cartola colorida. Empunhou contra o centro de seu pensamento.
Disparou. Sem a magia do aplauso o místico som do disparo explodiu sua alegria.
O circo se foi.

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